Amy Winehouse




O lado B de Amy Winehouse.
Drogas, agressão à pele em forma de tatagens, perda da autoimagem. Os fãs se identificavam com seu comportamento, mas não notaram a gravidade de sua doença psiquiátrica.


Não houve glamour na vida e muito menos na morte de Amy Wine­house. Uma intrincada enfermidade psiquiátrica denominada Transtorno da Personalidade Borderline – suas portadoras (predomina em mulheres na proporção de gênero de três para um entre a população mundial adulta) são invadidas constantemente por avassaladores sentimentos imaginários de abandono e sofrem terrível desmoronamento do ego, desintegração da identidade e da autoimagem. São impulsivas, mantêm suas relações interpessoais como um elástico que se tensiona ao máximo, as suas emoções e humor são fios desencapados em curto-circuito. Sentem-se esburacadas e autolesionam a pele para aplacar a dor da alma, sempre encharcada pela sensação, quase nunca real, de perda de pessoas que lhes são queridas. Assim, nesse inferno psíquico, viveu Amy Winehouse. O funeral ocorreu sem que se soubesse com precisão a causa da morte. Seja qual for a causa, no entanto, um fato está dado: mais do que simplesmente morrer, Amy descansou um corpo maltratado, um cérebro cansado e um músculo cardíaco esmagado pelo uso ininterrupto, abusivo e nocivo de vodca e coquetéis de outras drogas que chegaram a cruzar cocaína, heroína, anfetaminas, ecstasy e até quetamina (anestésico de cavalo). Em outras palavras, ainda que a causa mortis não revele overdose, sua precoce partida aos 27 anos foi acelerada pelo Transtorno de Abuso de Substâncias como um transatlântico que se dirige loucamente para espatifá-lo contra um iceberg.

O Transtorno de Abuso de Substâncias é, digamos assim, uma das franjas visíveis, concretas e palpáveis do Transtorno da Personalidade Borderline, e também uma de suas marcantes características. A rigor, ser Amy Winehouse não é para a mulher que quer, é para quem pode. Isso vale para sua fenomenal voz de branca a cantar como uma diva negra do soul, mas esqueçamos a voz e continuemos concentrados em seu comportamento. Ou seja, para ser a turbulenta Amy há de trazer consigo “pesadas ferramentas” biológicas, psicológicas e ambientais para desenvolver tal tipo de personalidade. É por isso que se diz, aqui, que não é para quem quer, mas, tristemente, para quem pode – e, creiam, a mulher que possui tais ferramentas agradeceria à ciência ou a Deus se com elas pudesse nunca ter entrado em contato, assim como Amy, aos berros e na impulsividade, ou aos prantos e na depressão, muitas vezes implorava querer “ser trocada por outra”.

No campo psicobiológico, aquilo que se chamou de “ferramenta” pode ser traduzido tecnicamente pelo funcionamento descompensado no cérebro do neurotransmissor serotonina. Tentativas recorrentes de suicídio são traços do transtorno e estudos recentes constataram concentrações mínimas do ácido 5-hidroxiindolacético (5-HIAA, metabólito da serotonina) em pessoas deprimidas que haviam tentado suicídio. No campo ambiental, pesa na infância a negligência ou a desatenção dos pais, abusos físicos, emocionais ou sexuais da criança. Pois bem, tentativas de suicídio – praticamente crônicas – não faltaram na vida da cantora ao utilizar drogas e cruzar vodca (sua dependência química prevalente) com medicamentos (cerca de 6% das borderlines que tentam suicídio conseguem consumá-lo, aproximadamente 60% de mulheres em ambientes institucionais psiquiátricos ou prisionais são borderline). Quanto ao ambiente, sabe-se que seu pai, Mitch, disputava desde cedo com ela a atenção da mãe, Janis.

Os fãs põem litros de vodca em frente à casa de Amy: identificação com seu alcoolismo

Falou-se antes da constante oscilação e perda da autoimagem e identidade como fortes componentes do Transtorno da Personalidade Borderline, e nesse buraco da identidade é que entram, por exemplo, a droga e a componente da pele (é como se faltasse uma pele protetora do ego), que vai da dermatotilexomania (provocar escoriações no próprio corpo) ao prazer ou autoagressão em se cobrir de tatuagens. Ao não ter fixada uma identidade em si nem um ego consistente, Amy, até por viver sobre palcos e sob refletores, fez da sua pseudoimagem de adicta a sua própria identidade enquanto pessoa.

O público sempre é passional e volúvel. Quanto aos fãs, com certeza é com carinho e boa intenção, mas também com grande dose de ignorância sobre saúde mental, que levaram garrafas de vodca ao santuário que se montou diante da casa da cantora no bairro boêmio londrino de Camden Town – se Amy só se identificava com a Amy alcoólica, os seus fãs, num processo quase psicoterapêutico de transferência, também se identificam com essa Amy. Para a indústria do som, o que não é lucro não está no mundo, festejaram que o álbum “Back to Black”, de 2006, saltasse para o primeiro lugar na lista de mais vendidos nos EUA assim que a morte da artista foi anunciada.

Nos buracos do cenário borderline, cenário com simbólicos pregos emocionais por todos os cantos, a portadora do transtorno põe porcaria atrás de porcaria na busca desesperada de preencher o seu vazio e aliviar o “torno psíquico” que não cessa de apertar. É comum encontrar-se mulheres presas que são borderline e deveriam estar em tratamento e não encarceradas – acabam presas porque, na ânsia de se “colarem” ao outro para ter uma identidade psíquica, muitas vezes se “colam” em traficantes. Elas anônimas, Amy Winehouse famosa, a história é a mesma. A cantora, no auge de uma de suas crises, casou-se em 2007 com o produtor e traficante  Blake Fielder. O relacionamento durou dois anos e a maior parte dele, Blake passou na cadeia . Os que agora a criticam, e certamente entre eles há os que depositaram garrafas de vodca diante de sua casa vazia, precisam saber que Amy era, em essência, enferma. Em “Beat The Point To Death”, ela cantou: “além disso estou doente/de ter de encontrar alguma paz”.

 Amy hoje tem paz, o “torno” borderline soltou-se, a montanha-russa borderline cessou, mas é a inútil paz dos mortos, não a fecunda paz dos vivos. De fato, não houve nenhum glamour em sua vida e muito menos em sua morte.


Saúde mental



Saúde mental: Conhece alguns dos principais transtornos:

Depressão: os sintomas são desmotivação, tristeza sem motivo, desinteresse pela vida, alteração no apetite e sono, irritação e cansaço. A depressão tem mais de uma causa que envolve fatores comportamentais com o desequilíbrio de neurotransmissores, como a serotonina, que regula o humor, e a dopamina, responsável pela sensação de bem-estar. O diagnóstico é feito pelo psiquiatra e o tratamento engloba terapia e medicamentos, podendo ser utilizados de maneira conjunta ou não.

Esquizofrenia: A esquizofrenia é um transtorno psiquiátrico que ocorre por uma predisposição genética. Existem estudos que mostram que se trata de uma dificuldade na comunicação entre os lados direito e esquerdo do cérebro. Geralmente manifesta-se a partir dos 20 anos por meio de alucinações e delírios. A manifestação mais comum é a de ouvir vozes. O diagnóstico é feito pelo psiquiatra e o tratamento consiste em uso obrigatório de medicamentos, que bloqueiam as alucinações, associado à terapia com psicólogo, terapia familiar, para ajudar a aceitação do tratamento, e terapias ocupacionais.

Transtorno bipolar: É um transtorno mental crônico caracterizado por oscilações de humor, que podem ir de episódios depressivos e episódios de mania ou hipomania, com aumento de energia, aceleração do pensamento, humor exaltado ou irritado. Os episódios podem durar de uma semana até anos. O diagnóstico é feito de maneira clínica por um psiquiatra. O tratamento inclui medicamentos estabilizadores de humor e terapia. Não há mudança de humor repentina, como "estar triste e depois de cinco minutos estar feliz". Esse tipo de oscilação de humor pode se tratar de personalidade imatura, um sintoma de outra doença, o transtorno de personalidade Borderline"

Transtornos de personalidade: São transtornos que se manifestam no início da vida adulta em decorrência de um conjunto de fatores: genética, aspectos psicológicos e o meio em que a pessoa vive. A pessoa com estes transtornos apresenta um padrão de resposta emocional inflexível e fora do padrão, com grande dificuldade em se relacionar com as pessoas. O diagnóstico é feito pelo psiquiatra e o tratamento envolve terapia e medicamentos.
Há três classificações: transtornos excêntricos ou estranhos, como o transtorno paranoide; transtornos dramáticos, como o Borderline; e transtornos ansiosos ou receosos, como o transtorno de personalidade dependente.


Borderline pode ser confundido com depressão. 



Imagine que discutiu com a sua melhor amiga. Normalmente, a situação pode ser resolvida com uma conversa, esclarecendo o que não gostou. Para uma pessoa com depressão, essa discussão pode gerar apatia por uns dois dias e, se a amiga a procura, vocês falam novamente. Já para uma pessoa com Borderline, a situação pode parecer o fim do mundo. Motivada pela impulsividade, a reação pode-se tornar exagerada, recorrendo até a automutilação.

Enquanto a pessoa com depressão fica mais abatida diante de algumas situações, o paciente com Borderline costuma ser reativo.
Reações exageradas, como a descrita acima, são frequentes em pessoas com essa perturbação, tornando isso um padrão comportamental, o que diferencia de comportamentos esporádicos.

O Borderline pode trazer sintomas depressivos, o que pode levar a uma confusão no diagnóstico. Pessoas que tenham transtornos de personalidade, por conta do sofrimento que o transtorno causa, podem estar mais sujeitas a ter também a depressão.

O termo depressão costuma ser usado para descrever o humor triste ou desencorajado que resulta de eventos emocionalmente estressantes, como um desastre natural, uma doença séria ou a morte de um ente querido. É possível também que a pessoa diga que se sente deprimida em determinados momentos, como nas festas de fim de ano (tristeza de fim de ano) ou no aniversário da morte de um ente querido. No entanto, esses sentimentos normalmente não representam um transtorno. Normalmente, esses sentimentos são temporários e duram dias, não semanas ou meses, e ocorrem em ondas que tendem a estar relacionadas a pensamentos ou lembranças do evento perturbador. Além disso, esses sentimentos não interferem substancialmente com a funcionalidade durante qualquer período de tempo.

Depois da ansiedade, a depressão é o transtorno de saúde mental que ocorre com mais frequência. Aproximadamente 30% das pessoas que consultam um clínico geral têm sintomas de depressão, porém, menos de 10% dessas pessoas apresentam depressão grave.

A depressão normalmente surge em meados da adolescência ou ao redor dos 20 ou 30 anos; no entanto, a depressão pode começar praticamente em qualquer idade, incluindo durante a infância.

Um episódio de depressão não tratado costuma durar cerca de seis meses, mas, às vezes, prolonga-se por dois anos ou mais. Os episódios tendem a se repetir diversas vezes ao longo da vida.

Já o Borderline (perturbação de personalidade limítrofe) é um transtorno de personalidade em que a pessoa não consegue lidar de maneira adequada com seus sentimentos. O termo significa "fronteiriço" e, antigamente, era colocado como uma situação pré-esquizofrênica, sendo um limite entre a esquizofrenia e a personalidade "normal". Com a evolução do diagnóstico, entendeu-se que eram transtornos diferentes, mas a nomenclatura continuou.

Entre as características do transtorno Borderline estão a instabilidade — em empregos, relacionamentos, projetos — grande sensibilidade com oscilação entre a idealização, raiva e o desprezo, impulsividade, esforços intensos para evitar o abandono, seja esse real ou temido e, devido a esse medo, ter ideias paranoides, alucinações e momentos dissociativos.

Outras particularidades do transtorno estão relacionadas à definição da autoimagem, comportamentos ligados à automutilação e ao suicídio e sentimento crônico de um vazio.

Embora possam ser confundidos, o transtorno de personalidade Borderline é diferente do transtorno afetivo bipolar. A bipolaridade é caracterizada por fases em que o paciente sente depressão, agitação ou impulsividade, enquanto o Borderline ocorre de maneira constante.

O transtorno Borderline acomete de 1,5% a 3% da população, sendo mais comum entre mulheres e com a maioria dos diagnósticos realizados entre o final da adolescência e o início da vida adulta.

Diferentemente de outros transtornos psiquiátricos, os transtornos de personalidade não possuem a característica de falta de substâncias neuronais e falha na recepção de serotonina (neurotransmissor que regula a sensação de bem-estar), como a depressão.

As causas do transtorno são múltiplas, sendo mais frequentes em pessoas que sofreram traumas, como agressões, abandono e abusos (emocional ou sexual) ainda na infância.

Não há cura para o Borderline, mas existe tratamento, sendo a psicoterapia obrigatória e medicamentos, como antidepressivos a estabilizadores de humor, recomendados de acordo com cada caso.

Para ajudar uma pessoa com Borderline, é importante que amigos e familiares tenham conhecimento dos comportamentos que a pessoa tolera ou não. É importante demonstrar amorosidade, atenção e ter posicionamento firme, quando necessário.


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Olá a todos! Sejam muito bem vindos ao meu blog. O intuito deste blog é informar, esclarecer, apoiar quem tem um distúrbio de personalidade,...

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