Vou deixar a parte da ajuda que pedi a minha mãe um pouco de lado por enquanto, para contar outra parte que foi ocorrendo ao longo do tempo.
Lembram-se de ter contado que conheci a pessoa que viria a ser o meu melhor amigo no ano que perdi o emprego?
Foi alguém que conheci pela internet na minha busca por emoções e sensações fortes. Acontece que aquilo que seria duas ou três saídas para diversão, foi-se tornando numa grande amizade. Gostávamos muito de conversar longas horas. As nossas saídas eram sempre agradáveis pois tínhamos um excelente entendimento. O objetivo pelo qual nos conhecemos, para mim desapareceu durante muito tempo porque eu via-o como um irmão, alguém a quem me sentia muito ligada. Ele era amoroso comigo. Interessado, cuidadoso, sempre pronto para ajudar. Era o melhor amigo do mundo. Nós borderlines encontramos ideais e heróis em todos os lados. O mesmo me aconteceu com o meu 2o namorado. Durante muitos anos foi assim, grande amizade onde trocávamos elogios, eu contava-lhe tudo, mas tudo da minha vida e ele sempre me apoiou nos maus momentos. Não o trocava por nada no mundo e lembro-me de uma altura pensar que o meu maior medo era perder a minha gata e ele.
Na verdade não tinha mais amigos. Só ele e o meu ex namorado que vivia comigo.
Quando fiquei doente foi muito difícil. Mais uma fase complicada a nível emocional com altos e baixos. Sentia-me muito fragilizada e esse meu amigo deu-me o carinho e proximidade que não tinha à muitos anos. Talvez ele tenha visto ali uma oportunidade que eu nunca lhe tinha dado antes e começamos, apesar de reticentes, um romance. Eu estava sedenta de alguém que me amasse, e cuidasse de mim e ele deu-me isso. Apesar de eu estar doente, tudo foi maravilhoso no inicio. Foi uma paixão tórrida. Tínhamos um certo compromisso um com o outro sem ser nada oficial. Tínhamos também o compromisso de não ter mais ninguém. A partir de uma altura o interesse dele começou a diminuir (onde já vi isto?) embora ele negasse. Hoje entendo que sufoco as pessoas. Na altura não tinha essa noção e não entendia o porque de muitas coisas.
Um dia, completamente por acaso, disseram-me que ele tinha outra pessoa e que dizia umas coisas bem feias de mim. Eu não acreditei pois ele continuava a ser a pessoa mais verdadeira e honesta que tinha conhecido. Só que quem me contou tinha no telemóvel um pequeno vídeo dele com a outra pessoa na cama de um quarto de motel. Mandou-me o vídeo para provar o que dizia. Eu vi o vídeo e ….. caiu-me tudo! Senti que morri ali com tanto desgosto, raiva, ódio. O meu melhor amigo morreu naquele momento também. Nem sei explicar por palavras tudo o que senti...
Há certas coisas que nos marcam para a vida e essa foi uma delas. Eu não sei exactamente o que aconteceu depois nem nos dias seguintes nem a ordem cronológica. Só sei que jurei me vingar. Pensei me matar varias vezes. Até tinha um plano para o fazer. Não o fiz pela minha gata. Não queria viver com aquele desgosto mas também não podia deixar a minha gatinha.
Investiguei tudo, descobri quem era a outra pessoa, o telefone e onde trabalhava. Falei com ela por telefone e dei-me conta que ele tinha-lhe contado tudo sobre mim em tom de critica e gozavam os dois de mim. Ficou a descoberto alguém mentiroso com falta de princípios e escrúpulos. Era esse o meu amigo???
A minha raiva era tao grande que fui a porta do trabalho dele, chamei-o e dei-lhe com um garrafão na cabeça. Fiz muitas outras coisas. Nada parecia fazer com que ele abrisse o jogo e contasse as verdades todas. Então cada vez que o chamava para conversarmos as coisas acabavam muito mal. Eu batia-lhe, fazia chantagens, deitei o telemóvel dele pela janela fora do carro na auto estrada onde também tirei a chave da ignição do carro em andamento, fiz tortura psicológica num quarto fechado e cheguei a ligar para a mãe dele, deixar o telemóvel dentro da carteira ligado para ela ouvir a conversa entre nós. Aparentemente foi isso que o fez repensar bem na vida dele e passar a ter consultas com um psicólogo.
Mais uma vez não me lembro dos tempos seguintes. Foram meses terríveis onde só chorava, não tinha vontade de nada. Chorava por ter perdido o meu melhor amigo.
Só agora sei porque nunca consegui deixar de falar com ele. Nenhum borderline consegue se afastar assim. O nosso medo do abandono é maior que tudo. Ele disse que ia reconquistar a nossa amizade mas não acreditei nisso. No entanto também não podia esquecer tudo de bom que tinha feito por mim, anos atrás.
Já passaram uns bons anos e agora temos de novo uma relação razoável, mas muitíssimo longe do que era. A minha magoa é grande e sinto-me rejeitada sempre que estou com ele. Tento levar as coisas para a brincadeira muitas vezes mas ninguém sabe o vai cá dentro. O meu coração ainda chora 😥😥
(...continua)
