Como prometido, vou continuar a contar resumidamente o meu percurso até ser diagnosticada com transtorno de personalidade borderline.
Na infância não me lembro de manifestações de carinho por parte dos meus pais, especialmente da mãe. Aliás lembro-me de muito pouca coisa da minha mãe. Enquanto ía a praia só com o meu pai, ou ao cinema, não faço ideia onde ela estava e porque não ía. Não havia carinho lá em casa. Nunca ouvi um amo-te ou um gosto muito de ti. Não havia maus tratos nem discussões, não faltava nada em casa, pelo contrário... a não ser amor.
Quando era miúda ouvi muitas os meus pais dizerem que esperavam que eu tivesse sido um rapaz porque já tinham 2 raparigas. Eu até sabia o nome que me era destinado se fosse rapaz. Mas não fui e sempre tive a sensação que não tinha sido desejada.
Os anos foram passando e embora muitas coisas se tenham apagado da minha memória, uma coisa eu sei, passava muito tempo sozinha em casa quando os meus pais viajavam. Mesmo de noite ficava sozinha.
A minha personalidade era muito diferente das minhas irmãs e penso que foi por aí que começaram as criticas e as comparações.
Todos somos diferentes e não é por isso que a nossa mãe não gosta de nós e só nos critica.
Passei a me considerar a ovelha negra da família. Meteram na minha cabeça que só fazia más escolhas, que tinha mau feitio… que não era como as minhas irmãs. A verdade é que não fiz mal nenhum. Não tinham motivos para dizer isso
Quanto mais tempo passava, mais afastada me sentia da família. Não tinha nada em comum com eles. Detestava as conversas snobs, ou a maneira como falavam mal dos outros. Toda a tropa era comandada pela minha mãe que apanhava todos com os seus tentáculos. Menos a mim. Eu respondia-lhe e ponha a verdade à vista. Claro que isso custou-me muito caro. Era posta de lado em quase tudo. Nas reuniões familiares mesmo com mais pessoas eu sentia-me invisível. Não falava com ninguém e ninguém falava comigo. Na maior parte das vezes, a seguir á minha mãe (que fazia questão de ser o centro das atenções a qualquer custo) eu era a pessoa que mais se destacava pela forma de me vestir e "aparente" ar altivo. Só aparente mesmo. Era uma mascara que usava para não me sentir magoada.
A minha mãe tinha inveja de mim. Como é possível? Eu não tinha nada para ela invejar.
O meu pai era a minha tábua de salvação quando queria pedir alguma coisa ou falar de alguma coisa. Era calmo e não fazia julgamentos. O meu pai era o meu herói desde pequena.
(...continua)