Segundo um dos sistemas de classificação de perturbações mentais mais amplamente utilizados a nível mundial — o DSM-5 — podemos dividir as perturbações da personalidade em 3 grandes grupos a que chamam clusters:
A.Perturbações da personalidade Cluster A (bizarro/excêntrico)
•Paranoide: pessoas com tendência para desconfiar das outras, a ter comportamentos querelantes (p. ex., fazer muitas queixas na polícia, ter muitos processos em tribunal), hostis e reivindicativos, e a interpretar as coisas como sendo sempre contra si. Por serem desconfiadas, têm dificuldade em confiar noutras pessoas e em investir numa relação afetiva. Muitas vezes estas pessoas são imprevisíveis e podem chegar a reagir de forma violenta (verbal ou até fisicamente), confrontando os outros com aquilo que sentem ser «uma perseguição» de uma qualquer espécie;
•Esquizoide: pessoas com uma grande dificuldade em expressar-se emocionalmente ou em compreender situações sociais, pelo que se tornam frias ou distantes (p. ex., têm dificuldade em sorrir socialmente) e pouco espontâneas. Tudo isso, leva a que invistam pouco em estar com os outros e a centrarem-se em atividades solitárias (p. ex., informática, matemática, jogos de computador), a terem pouco interesse no efeito que possam causar nos outros ou naquilo que os outros pensem sobre elas, a ter pouco desejo de ter relações de intimidade e de ter amigos (muitas vezes, podem ter um familiar ou amigo de quem são mais próximos, mas não costumam assumir a função de confidente);
•Esquizotípica: é considerada uma perturbação da personalidade próxima da esquizofrenia. São pessoas com aparência excêntrica e comportamento considerado estranho e que frequentemente têm uma forma de falar imprecisa, pseudointelectual ou demasiado abstrata (ainda que o discurso seja organizado), e crenças pouco habituais com tendência ao esoterismo ou ao pensamento mágico. Apresentam uma fraca capacidade de ler sinais sociais e é frequente expressarem-se de modo que os outros consideram desadequado à situação. Por tudo isto, são desconfiados e ansiosos na relação com os outros, preferindo envolver-se em atividades solitárias.
B.Perturbações da personalidade Cluster B (teatral/emotivo/errático)
•Antissocial: está historicamente ligada à ideia de psicopatia, isto é, àqueles a quem se chama psicopata. São pessoas que têm um comportamento que revela desrespeito pelas regras e pelos direitos dos outros, e que se envolvem em comportamentos de risco, de agressividade e de delinquência (acidentes, homicídios, abuso sexual, etc.) dada a sua incapacidade para travar os seus impulsos, em antecipar as consequências negativas dos seus atos e em controlar a sua irritabilidade quando não veem os seus desejos satisfeitos. São pessoas cínicas, imorais, superficialmente sedutoras, manipuladoras e apenas aparentemente agradáveis, usando essas características para obter vantagens dos outros com quem não desejam envolver-se emocionalmente de forma verdadeira. Estas pessoas não compreendem o sofrimento que causam nos outros e tiram prazer dos seus atos;
•Borderline: são pessoas emocionalmente muito instáveis, reagindo com grande irritabilidade ou raiva às situações, e que oscilam muito rapidamente entre a tristeza e a alegria, a irritabilidade ou a calma. A forma como pensam e sentem as coisas e as pessoas é «a preto e branco», isto é, tão depressa tudo é fantástico e maravilhoso, como tudo é a pior coisa de sempre; tão depressa uma pessoa é admirável como é uma malfeitora. Por isso, têm muita dificuldade em estabelecer relações saudáveis, não aceitando pequenas críticas e sendo frequentemente conflituosas. Isto habitualmente leva a separações e perdas que depois têm dificuldade em aceitar, sentindo-se desprezadas e abandonadas, o que lhes causa muito sofrimento. São pessoas habitualmente irritáveis e que se sentem vazias, entediadas e tristes, muito embora tenham períodos em que, pelo contrário, se consideram inigualáveis. Apresentam frequentemente comportamentos autolesivos (p. ex., cortes superficiais nos braços ou pernas) que as fazem sentir temporariamente menos angustiadas, como se uma dor física aliviasse o sofrimento psíquico;
•Histriónica: pessoas com manifestações emocionais excessivas e grande necessidade de atenção, sentindo-se mal quando não são o centro das atenções ou consideram não ser suficientemente amadas pelos outros. Para o conseguir, usam comportamentos provocadores e sedutores, utilizando o seu aspeto físico e tentando revelar conhecimentos elevados ou realizar façanhas vistas pelos outros como elogiáveis. São, por isso, pessoas teatrais (gestos exagerados, risos, etc.), mas também muito influenciáveis pela opinião dos outros a quem têm o desejo de agradar, mesmo que sejam quase meros desconhecidos. Apesar disso, têm dificuldade em manter relações de verdadeira proximidade, tendendo a «fugir» quando os outros se tentam aproximar;
•Narcísica: pessoas com uma ideia engrandecida delas próprias (como se fossem melhores que os demais) e com uma grande necessidade de serem admiradas. Preocupam-se com elas próprias e são ambiciosas, utilizando diferentes meios para atingir os seus fins de reconhecimento social e profissional, tendo habitualmente grande capacidade de trabalho. Tendem à manipulação e à exploração dos outros em seu proveito, e a serem pouco tolerantes à crítica ou ao falhanço, podendo sentir-se inferiorizadas e ficarem irritadas quando tal acontece. Apesar disso, são, por regra, pessoas com uma capacidade de adaptação satisfatória.
C.Cluster C (ansioso)
•Evitante: são pessoas reservadas, tímidas, com medo da rejeição, muito sensíveis à crítica e com baixa autoestima. Por receio de serem julgados negativamente pelos outros, são pessoas que evitam situações em que possam ser julgadas ou considerar não estar à altura e, assim, acabam por estar isoladas socialmente. Por regra, atenua-se com a idade;
•Dependente: são pessoas com uma importante falta de confiança em si próprias, que se autoavaliam negativamente e que têm dificuldade em funcionar de forma autónoma, isto é, em tomar iniciativa ou em fazer escolhas, procurando sempre a aprovação e apoio dos outros na tomada de decisões ou, se possível, transferindo essa responsabilidade para outra pessoa;
•Obsessivo-compulsiva: são pessoas perfeccionistas, tenazes, com grande sentido de responsabilidade, preocupadas com a ordem e o controlo pessoal das suas emoções e das situações, cujo pensamento e comportamento são tendencialmente rígidos, emocionalmente controlados e pouco espontâneos, tendo, por isso, baixa capacidade de adaptação perante situações imprevistas ou que possam sentir que fogem ao seu controlo. Por isso, têm muita dificuldade em delegar trabalho ou responsabilidades nos outros ou em compreender pontos de vistas diferentes dos seus, o que, muitas vezes, pode provocar conflitos com a família, no trabalho ou com os amigos. Essa rigidez emocional e comportamental pode agravar-se com a idade e prejudicar as suas relações.
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